quarta-feira, 7 de março de 2012

Para a Carol

Sete anos atrás, quando eu tinha por volta de 17 anos comecei um projeto a pedido de uma amiga, não uma amiga qualquer, a minha melhor amiga.
Essa amiga eu conheci durante a minha primeira série, desde essa época já éramos inseparáveis. Era aquela coisa de um fim de semana na casa de uma, um fim de semana na casa da outra. Tão juntas que a única cicatriz que tenho no corpo fiz quando estava junto com ela, brincando em uma piscina na chácara dos tios dela, durante o carnaval, um corte no joelho, a mãe dela me levou no pronto socorro e tive que levar três pontos.
Na minha quinta série eu mudei de escola, fui estudar no mesmo colégio que o meu irmão, mas ainda assim estudava perto da Carol, ou Ana Carolina, como preferirem. Nos ainda nos víamos todas as semanas, conversávamos muito, e principalmente passávamos as nossas noites juntas jogando video-game.
E o tempo passa mais um pouco e já estamos no primeiro colegial, aí sim a coisa complicou um pouco, morávamos as duas em São Paulo, porém a mãe da Carol foi morar no Japão junto com a irmã dela, e ela teve que ir morar com a tia em São Bernardo dos campos (a tia que eu fui na chácara e estourei o joelho), e no meu caso, bom, minha mãe não foi, ela voltou da Índia, e foi morar em Araraquara, e eu resolvi conhecer um pouco mais esse ser que passei praticamente sete anos morando longe, e lá fui eu para Araraquara, morar com a minha mãe e os meus avós.
Mesmo com a distância a amizade não se perdeu, já eram tempos de internet, o que facilitaria muito a vida se nós fossemos garotas normais, mas como não somos, aderimos ao habito de mandar cartas, para terem uma idéia eu tenho uma caixa de sapatos cheia de cartas, metade delas é da época que minha mãe morava na Índia e a outra metade são cartas da Carol.
Fiz meu colegial, namorei, meu avô faleceu, aprendi muitas coisas, passei por muitas situações, e a Carol, lá do outro lado também. Durante as férias de dezembro e janeiro as duas voltavam pra São Paulo e assim nós podíamos nos ver um pouco, entregávamos os presentes de aniversário (ela é de Novembro e eu de Setembro) e conversávamos, e ficávamos juntas.
Quando acabamos o colegial voltamos as duas a morar em São Paulo, e pra variar um pouco continuamos a nos ver muito, ela estava namorando, eu fazendo cursinho, mas o importante era nos vermos, foi nessa época, aos meus 17 anos que veio o início dessa história, o tal projeto, o pedido que a Carol me fez, ela queria um cachecol, eu havia aprendido a fazer trico lá em Araraquara com a minha avó, então comecei a fazer o cachecol, um cachecol preto. Bom minhas habilidades de trico na época eram muito deficientes (ainda são, só sei fazer um tipo de ponto), o que resultou em uma demora absurda para acabar a coisa, levando em conta que eu ainda estava estudando para o vestibular a demora triplica. O que eu não sabia é que no final eu não iria ter tempo de entregar o tal presente.
Aos 18 anos a Carol faleceu.
E hoje, muitos e muitos anos depois da tal promessa, estou aqui eu, com uma nova promessa, essa feita principalmente para mim, e para o meu atual namorado, eu vou terminar esse cachecol, e vou levar até ela, mesmo que seja apenas em pensamentos a parte do levar, e depois de todo esse tempo irei "visitá-la" no cemitério.
É complicada essa coisa toda, como ela era minha melhor amiga acabo por sentir muita falta, e sempre que está perto do carnaval (ela faleceu uma semana antes) eu começo a me entristecer, quando vai chegando o final de novembro também, e pra que estou fazendo isso? Quero cumprir a minha promessa, quero que todas as lembranças que tenho sejam boas, não quero mais ficar triste com a partida dela, quero ficar feliz por ter tido a oportunidade de compartilhar 10 anos da minha vida com essa amiga maravilhosa que ela foi.

3 comentários:

JenissonX disse...

Eu sei como é isso Fer! Já te contei a história! E eu apoio totalmente a sua iniciativa! Parabéns! o/

Pri disse...

Fe, é difícil mas estamos ai para o que precisar, e se quiser companhia pra ir visitar a Carol eu vou com você, preciso vê-la também.

Beijos Pri

Shanti disse...

Fe, termine o cachecol sim e vá entrega-lo para ela... faça disso um ritual de celebração, para deixá-la ir alegremente ... e abrir espaço em você para o novo...
A morte é um mistério, o corpo físico morre, mas somos só isso?
Agradeça tudo o que ela representou, tudo o que conheceu junto com ela, toda troca, toda amizade e faça jus ao aprendizado que tiveram juntas... compartilhando com outros o mesmo carinho.... o mesmo sentimento...
As formas mudam.... elas tem que mudar... se transformar, seguir seu caminho...
Tem uma história muito linda de uma mulher que perdeu um filho bebe e ela levou-o nos braços até Buda... para que ele o trouxesse de volta a vida... e ele disse a ela que o traria... mas com uma condição... ela teria que encontrar uma casa onde não houvesse morrido ninguém... e ela foi... procurou na cidade inteira, de casa em casa... e não encontrou nenhuma, nem ninguém que não tivesse perdido alguém querido.... ela voltou para Buda, com lágrimas nos olhos e entregou-lhe o filho dizendo... não precisa trazê-lo de volta, porque entendi que mesmo o trazendo de volta ele vai morrer de novo.... o que quero é que você me inicie, quero ir em busca daquilo que nunca morre.... e ela se tornou uma discípula de Buda.

Beijos minha amada....