quinta-feira, 24 de maio de 2012

Pensamentos de passarinho XIII

“Mas é claro que o sol, vai voltar amanhã
mais uma vez, eu sei”
(14 bis/Renato Russo)


O Sol nasceu, da mesma forma que sempre nasce, fiquei ali, esperando, ainda era muito cedo. Meu coração de passarinho palpitava de forma descontrolada, sentia meu corpo tremendo e as penas eriçadas. Medo, suor frio, enjoo, respiração apertada, tontura, desesperança e um nós na garganta. Era momento de partir, no caminho pensei muitas vezes em o que seria de mim depois da resposta final, aquela que eu já estava certa, a separação. Pessoas se matam... Morte parece algo interessante. Como seria morrer? Pensar essas coisas parece clichê, mas as vezes eu não controlo os meus pensamentos.
O caminho pareceu longo, muito longo, e eu estava tão perto de lá. O chamei. Quis me aproximar, quis tocar em suas asas, quis aproximar minha cabeça da dele. Ele se afastou, esta ali, parado e decidido, não havia nem um resquício de pena, de compaixão, de amor, nada transparecia por seus olhos, era uma visão assustadora, uma visão que eu jamais gostaria de ter novamente. Tentei ser direta, tentei ser emocional, me desesperei, me acalmei, quis partir para sempre, quis ficar para sempre, e ele continuava impassivo, mas continuava ali, ele poderia ter partido, poderia ter se recusado a me ver, isso me dava esperanças, isso me enchia de uma forma estranha, me completava, talvez isso só acontecesse por ser ele, aqueles olhos continuavam a me preencher por dentro, mesmo sendo frios, seu cheiro continuava a fazer meu coração bater suavemente, sua presença continuava a acalmar meus tremores, mesmo paralisado de medo meu corpo se sentia bem ali, era o único lugar em que eu deveria estar naquele momento.
De repente em uma ultima esperança eu cantei a música certa. Ele tocou em mim, ele sorriu. Paralisei completamente, o inesperado, o impossível, o inacreditável, uma esperança, uma chance, um recomeço. O medo continuava toda ali, naquele momento parecia que o medo continuaria ali para sempre, afinal, tudo poderia acontecer novamente. Ficaria distante por alguns dias, me prepararia para todas as mudanças, faria o que fosse necessário, mas ainda assim tudo parecia frágil demais, eu estava cruzando o mar, um voo longo e cansativo, que qualquer falha levaria ao meu fim, só havia uma chance de completar o percurso, se o vento começasse a soprar contra mim... Eu saberia que estava perdido. Uma única chance, mas era apenas o que eu queria, eu não precisava de mais nada. Queria cantar de alegria, mas o percurso ainda não havia se completado, eu só cantaria no final, quando houvesse perdido ou ganhado finalmente, quando eu soubesse o resultado, quando eu finalmente poderia descansar as minhas asas, quando pudesse fechar os meus olhos e sonhar em paz, quando eu conseguiria dormir novamente.
Parte de mim estava cansada de todo esse medo que eu sempre sentia, mas infelizmente.. Eu continuava a sentir. A diferença? Eu não ligava mais para ele. Eu seguiria em frente. Se eu morresse tentando? Eu morreria. Não havia mais escapatórias, o caminho era um só e se eu me desviasse... Não haveriam mais outros caminhos, algo bem simples de se compreender. Voltar? E me sentir derrotado? E me sentir vazio? Eu não conseguiria. Meus dias continuavam...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pensamentos de passarinho XII

E lá estava eu mais uma vez... Parado perante minhas culpas, meus erros. Ele não veio, eu sabia que não viria. Fiquei ali, não fui atrás. Quantas vezes as coisas precisariam se destruir para que eu finalmente conseguisse mudar? Quantas vezes eu precisaria ver meus sonhos morrerem para finalmente conseguir alcança-los?
Esta foi minha noite mais longa, ouso dizer que foi e será a noite mais longa de minha vida, se assim como as pessoas eu pudesse chorar, era o que eu estaria fazendo, mas minha lamúria era apenas um canto triste, e esse canto se misturava com a vontade de ficar calado para todo o sempre, talvez essa solução fosse um tanto drástica e sei que não resolveria nada, mas era assim que eu estava, perdido, completamente sem saber o que fazer, sem saber como corrigir meus erros, afinal, não há como voltar ao passado, não há como desfazer meus voos, como apagar minhas músicas, como sumir com meus pensamentos, tudo que eu poderia oferecer era o futuro, mas naquele momento ele não queria me ver, ele não queria me ouvir, por mais que eu cantasse, por mais que eu me aproximasse, o tempo dos concertos parecia ter passado sem que eu tivesse feito nada, e agora parecia apenas o tempo da perda.
Se as estrelas brilhavam eu já não conseguia enxergar nenhuma, tudo aconteceu em quatro dias, quatro passos errados, não colaborei com a ocasião, não me fiz entender e me perdi em meu próprio mundo de tristezas, maldita fase, maldita época em que a tristeza chega e não me deixa espaço para a razão, tolo, é tudo que posso dizer de mim.
Me encontrei com outras aves, não queria estar sozinho, porém não era nenhuma delas a ave com quem eu realmente gostaria de estar, por fim, veio o fim.
O céu desabou em minha mente, vontade de ficar para sempre sozinho, vontade de voar para bem longe, vontade de subir as alturas e virar estrela, sumir do mundo, não queria mais esperar, não queria mais fazer parte de nada, eu sempre estivera sozinho, ou pelo menos, naquele momento era aquilo que eu pensava. Todos que vieram antes partiram, todos que poderiam vir depois, sei que também partiriam, não queria mais viver neste triste mundo onde tudo sempre partia, e quando não partiam... Era eu quem dava as costas. Afinal, existiria no mundo algum lugar que me satisfizesse? Eu acreditava que havia encontrado, mas agora eu parecia ter errado... Mais uma vez, mais um sonho desfeito, mais um desejo frustrado, mais um futuro que jamais existiria. Tudo o que eu queria era que o amanhã nunca mais chegasse.
O fato é que apesar de todo o derrotismo, apesar de tudo despedaçado, quem estava ali era eu. Não sabia ficar parado, não sabia realmente desistir de algo, eu queria uma ultima chance, queria olhar uma ultima vez aqueles olhos, para ter a certeza de que tudo estava perdido, para ter a certeza de não haveria um amanhã. Talvez fosse estupidez, talvez eu apenas me machucaria mais. Machucar mais? Isso era possível? Meu corpo já parecia dormente, os sentimento já estavam partidos, não havia mais o que despedaçar, então porque não? Quando o dia viesse eu partiria, sabia onde ir, sabia onde encontra-lo, só não sabia o que fazer. Mas talvez as coisas acontecessem na hora. Por mais que eu pensassem em um plano genial de como concertar tudo, eu sabia que na hora as coisas seriam diferentes, que elas simplesmente seriam como tinham de ser.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Olha lá!

Shhhhhh! A noite vem vindo!
Fechem os olhos.
Façam silêncio!
A lua esta nascendo...

Colorindo um sonho

Com peças de lego
Construirei nosso castelo
Erguerei paredes coloridas
Pintarei o chão de sonhos

Recortarei estrelas de papel
Forrarei todo o céu
E de dia as nuvens de algodão
Pela brisa vão seguir

Farei um belo jardim
Rosas de origami
Árvores de argila
De aquarela farei o lago

Sei que pode não ser muito
Que não haverá espaço para nós
Mas enquanto não posso
Me dê mais cinco minutos para sonhar

Bem-vindo!

Minhas palavras são limpas, este espaço é meu mundo, cada linha que escrevo é uma parte de mim.
As histórias que aqui crio são como parte de mim, resultados de uma imaginação fértil e de muitos sonhos. A menina que eu mostro aqui sou eu, despida, sem as rédeas de um mundo racional, sem as falsas verdades, sem as máscaras.
Talvez não seja tão simples de entender, mas somente aqui poderá me conhecer. Poemas com muitos sentidos que talvez só façam real sentido para mim. Não me importo. Aqui meu leitor é como uma extensão de mim, escrevo por gostar, escrevo pois muitas vezes é a única forma que tenho de colocar para fora toda a minha realidade, é a forma que encontrei de me comunicar comigo.
Muitas vezes ao reler minhas palavras me surpreendo, me pergunto como escrevi aquilo e tudo parece muito mais intenso, as vezes até mais belo.
Se você esta aqui lendo, apresento minha alma, seja bem vindo as minhas entranhas, venha conhecer a minha mente, sinta-se a vontade de degustar minhas lágrimas, e quando estiver cansado...
Tenha uma boa noite de sonhos.

Pensamentos de passarinho XI

A noite foi longa e fria, mas sei que o frio não vinha de fora, ele estava dentro de mim, eu tremia pelo medo e pela ansiedade, foi difícil dormir. A mente a todo instante se perguntava se era isso mesmo, se eu deveria estar ali, a poucos dias eu havia conhecido outro lugar, um lugar que se parecia com um lar, mas agora eu estava ali, sem saber o caminho a tomar, sem saber se deveria arriscar, por fim decidi o que meu peito queria, talvez eu acabasse errando, acabasse ferindo ou sendo ferido, mas qualquer escolha diferente da que eu estava tomando me faria sentir o vazio dentro de mim, eu ficaria impaciente, começaria a agir estranho... Me conheço o suficiente para saber que não daria certo, ou talvez até desse mas apenas enquanto eu conseguisse me enganar, porém sei que sou muito ruim nesta arte.
Depois de muito pensar e pouco dormir o sol nasceu, eu estava cansado, sei que meu canto não era tão bonito, mas até parecia pior, o dia estava nublado, o dia parecia indeciso quanto a suas condições, calor, frio, chuva, sol, vento, estavam todos ali, presentes. Ele veio, mas também parecia perdido, como se ele simplesmente soubesse tudo aquilo que havia acontecido, tudo que se passava em minha mente, como se houvéssemos conversado sobre tudo, talvez realmente havíamos conversado, eu nunca entendi direito como se fazia essa comunicação entre nós, talvez as coisas já tivessem progredido muito mais do que o que eu imaginava, talvez já existisse algo realmente concreto, talvez parte dele já estivesse em mim, e parte de mim estivesse nele.
Seguiram-se algumas tardes confusas, manhãs cinzentas, um tanto de medo que transparecia não apenas de mim, mas também dele, e aqueles olhos que pareciam tristes me tornavam cada vez mais cativo, cada vez mais perdido em apenas uma vontade, e agora eu percebia que não era apenas a vontade de cantar ou ouvir seu canto, também não era a vontade de cantar junto, se bem que ainda não havíamos feito isso, mas conforme as coisas estavam andando, sei que isso não estava longe de acontecer, mas eu queria um algo mais, e é engraçado pensar sobre isso, pois eu tinha medo de desejar, muito medo.
Aos poucos as incertezas que haviam começaram a se desfazer, ao menos as que eram possíveis de tal coisa, pois é fato, algumas incertezas são eternas, talvez isso faça com que cuidemos mais das coisas, por isso não irei criticar a sua existência. Os dias foram novamente voltando a parecer dia, eram azuis, bonitos, e aos poucos comecei a ver as mudanças que estavam ocorrendo. As vezes ele não aparecia, por motivos próprios, eu sentia medo de que isso nos separasse, mas não podia mudar o mundo, as vezes era a minha vez de fazer o mesmo, nem sempre era possível estar ali, mas era evidente o quanto cada um queria estar perto, estar junto, passou um mês, passou outro e as coisas continuaram, as vezes em passos mais acelerados, as vezes em passos tímidos, porém no quarto mês algumas mudanças bruscas vieram.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Como a noite poderia ser tão longa? O tempo não passava, eu simplesmente sentia frio

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pensamentos de passarinho X

O sol estava nascendo, podia ouvir os primeiros lamurios da humanidade acordando, os carros, as buzinas, o mundo acordando e dando de sua forma um sutil bom dia. Fechei os olhos com força, sabia que meu pequenino corpo tremia, apertei ainda mais os olhos, abri meu bico e coloquei-me a cantar, faltava coragem de abrir os olhos, de saber se ele também estava ali, se ele chegava, ou se ele havia partido por não gostar de minha canção, continuei confiante, os olhos relaxaram um pouco mas ainda faltava coragem para abri-los.
Seu eu pudesse simplesmente saber tudo o que se seguiria, seu houvesse mais confiança em meu ser... Era difícil para mim encarar tudo aquilo, afinal já haviam sido tantas perdas, muitas delas por minha causa, minha culpa, palavra difícil essa, CULPA, ela cai com força em minha cabeça, ou eu a coloco sempre em meus ombros, posso dizer até que não sei se saberia voar se ela não estivesse ali, talvez eu já estivesse acostumado demais com seu peso, ele que ajudava a balancear meu voo, talvez sem ela eu já tivesse partido desse mundo, tivesse flutuado para fora da atmosfera, talvez a culpa seja semelhante a força da gravidade, ela que nos mantêm presas a esta terra.
Mas o fato é que com ou sem culpa era necessário prosseguir, assumir meus atos, minhas falhas, fraquezas, erros, tantas e tantas coisas, e se eu já havia acostumado com ela, poderia superá-la, quando finalmente estava prestes a abrir os olhos senti a vibração no galho em que eu estava pousado, assustei, parei de cantar, a respiração cessou por alguns instantes, o acelerar do coração fez com que ela voltasse, muito mais acelerada do que o normal, a vertigem, e por fim, os olhos se abriram, ele estava ali, me encarando, esperando que eu voltasse a cantar, ele estava calado, era a minha vez, afinal, ele já havia cantado tanto para mim. Respirei fundo, fechei novamente os olhos e cantei, cantei por muito tempo, cantei até a tarde chegar, e ele se manteve ali, ao meu lado, eu tinha vontade de cantar ainda mais quando pensava nisso, não conseguia parar, não queria que o dia terminasse, não queria que ele partisse, queria que tudo se mantivesse como estava, eu cantando, ele ouvindo, queria estar ali, ao lado, pois naquele instante nada mais importava, eu não lembrava mais que antes havia um gaiola, que antes havia um rapaz, eu não lembrava de ter me sentido nenhuma vez tão em “casa”, de repente a palavra lar parecia ter mudado de significado, ali parecia ser o meu lar, mas conforme a tarde vinha chegando, conforme a noite se aproximava eu sabia que aquele lar estava se desfazendo e que por fim ele se desfaria completamente, ou se desfaria até a manhã seguinte, onde eu novamente o teria ao meu lado.
E ele partiu, senti quando seu peso saiu do galho, a vibração, e então parei, deixei o silêncio me invadir, e aquela sensação de solidão se apoderou de mim, forte, como a muito eu não sentia, como havia sido da primeira vez que eu parti. Porém dessa vez era diferente, era solidão, era insegurança, medo, e mais diversos sentimentos que eu simplesmente não saberia nomear.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pensamentos de Passarinho IX

Mais um dia vem, mais um dia vai e o tempo continua a passar, o medo cresce cada vez que o momento parece chegar, porém o momento sempre parte sem eu nada tentar.
Mas como sempre uma hora chega e não dá mais para escapar, as coisas acontecem como deveriam acontecer, e eis que o passarinho que cantava resolve se aproximar, pousa ali ao meu lado, não diz nada, mantém estável o seu cantar, as vezes olha para o lado, as vezes finge que eu não estou ali, outras vezes posso jurar que o único motivo de ele estar ali... Não, não deve ser.
E o primeiro dia dele, ali ao meu lado se passa, não nego a vontade que senti de cantar junto, de compartilhar de verdade o momento, mas não sei o que ele pensaria. Talvez eu devesse ser mais direto, talvez eu devesse me preocupar menos, afinal, eu já não tenho nada, o que poderia perder? Na verdade eu sei o que eu perderia, perderia a esperança, o sonho de que aquilo que esta acontecendo pode crescer, que eu posso encontrar ali um abrigo. Mas afinal, eu não tinha dito que ele não poderia me oferecer um abrigo? Acho que de repente as coisas começaram a mudar mais do que eu esperava e tudo por causa de uma simples companhia, me pergunto o quão complexo pode ser um relacionamento. As vezes é mais fácil fechar os meus olhos e simplesmente voar pelo mundo, sem saber o caminho, apenas sentir o vento em minhas asas, apenas sentir os cheiros, ver o sol se pôr e dormir, esquecer que existem pensamentos, o problema é que sempre que chega a noite, sempre que não tenho mais os céus, vem esse sentimento de vazio, e agora com tudo isso que tem acontecido, com o novo pássaro, com essas novas esperanças, a sensação de vazio tem se tornado cada vez mais recorrente, meu ser quase grita pedindo para que eu entre em contado me dizendo que tudo o que me falta, que tudo o que preciso para preencher este meu vazio esta ali, pousado ao meu lado, cantarolando uma linda canção sem parecer se preocupar com o dia de amanhã.
Pois é passarinho, a vida é complicada para nós, ou seria simples e nós é que a complicamos?
Estava decidido, amanhã, sem falta!
Quando ele pousasse ao meu lado eu começaria a cantar junto, ou quem sabe antes mesmo que ele começasse a cantar, cantaria eu, cantaria olhando em seus olhos para que ele soubesse que aquela música não era para ninguém mais além dele, e quem sabe então ele resolvesse cantar comigo, quem sabe ele quisesse também ouvir minha canção, e ele só estivesse ali ao meu lado por todos estes dias a espera desta canção. Quem sabe a partir daquele momento as coisas se tornassem mais completas e mais belas.
Mas mais uma vez, dentro de meu medo, dentro de meu pequeno corpo de passarinho, enterrei minhas esperanças, aguardaria um dia a mais, mas desta vez seria o ultimo dia de espera, ou pelo menos era isso o que eu estava dizendo a mim mesmo, a partir de amanhã as coisas seriam diferentes, ele iria ouvir a minha voz também. Será que gostaria? E mais uma vez meu coração batia acelerado, a espera do novo dia, a espera do momento perfeito, o desejo era grande, talvez até maior do que o medo.

Pensamentos de Passarinho VIII

As vezes as soluções simples nos fogem das vistas, pois estava ali a minha tão procurada resposta. Outra ave, outro canto, mas como chamar de lar? Afinal o que eu buscava? Um lugar para viver? Se fosse apenas isso eu já tinha, assim como tive tantos. Era fácil encontrar um lugar, mas só isso me bastava? Apenas cantar em troca de moradia? Foi o que eu fiz por muito tempo. Eu fazia para ganhar algo em troca, e os outros me davam pelo meu canto. Não era pelo que eu era ou como eu era, talvez isso seja confuso de se entender, até mesmo para mim no momento essa coisa toda não parece fazer muito sentido. Mas estava ali. Uma ave, um passarinho, que cantava. Cantava por estar ali, por ser ele, por eu estar ali, sabendo que eu não podia dar um mundo a ele, afinal, eu sou apenas um passarinho, nada além disso, minhas únicas habilidades estão em voar e em cantar, nem belo posso me dizer, afinal, existem tantos outros mais raros, mais emplumados e de cantar mais doce.
Mas ele está ali, e canta de forma doce. É engraçado, sinto meu coração bater um pouco mais acelerado, não sei se por reação a música, pelo pensamento que me vem a mente sobre um novo caminho a ser seguido ou se é pelo simples fato de ele estar ali. Outra ave, assim como eu, que também só pode me oferecer suas asas e seu canto. Ou será que pode me oferecer algo além disso?
O céu azul, as nuvens passam lentamente, e enquanto não sei o que devo fazer apenas observo, afinal, não Irá me fazer mal ouvir um canto tão belo. Se eu pudesse sorrir como os humanos, sei que estaria fazendo, mas tudo que sinto são meus olhos brilhando, a alegria me invadindo. Existe o medo de chegar perto e ele simplesmente voar, partir para longe, pois assim como eu, ele tem asas, o dia vai passando, a tarde vai se aproximando, o cantar aos poucos se dispersa, e por fim, ele parte.
Amanhã será um novo dia, uma nova manhã.
Talvez ele esteja novamente aqui. Talvez eu possa me arriscar um pouco mais, me aproximar, talvez ele goste de cantar comigo, mas somente amanhã poderei descobrir.

Pensamentos de passarinho VII

Já se passou muito tempo desde que estive aqui falando sobre mim. A gaiola, o céu pelo qual voava, o rapaz que havia deixado a gaiola aberta e que eu não sabia se queria que eu ficasse ou parti-se.
A muito se passou a dúvida, tantas vezes fui, tantas vezes voltei, em algumas dessas vezes ensaiei a fuga, parti sem deixar vestígios, sem olhar para trás. Mas sempre era difícil, mas chegou um tempo em que toda a minha alegria, todos os sonhos começaram a morrer.
O céu já não era mais o bastante para mim, a gaiola meio aberta, aquela casa, aquele rapaz, as cores estavam morrendo e meu coração de passarinho chorava a cada nota que eu tentava cantar.
Eu parti, ou talvez ele tenha me posto para fora, a questão é que ambos estávamos perdidos, e eu sabia que se voltasse estaria para sempre preso na angustia.
E dessa vez a partida realmente foi para sempre.
Algumas vezes encontrei com ele pelo meu caminho, porém ele fingiu que não era eu, ou simplesmente não me reconheceu, e eu não fui até ele.
Segui por meu céu, segui pelas nuvens, fui me apaixonando pelo mundo, vivendo alguns novos sonhos, tentei viver em outro lar, uma nova gaiola, um belo poleiro, um lugar em que eu era alimentado, em que eu era tratado como um rei, porém eu continuava sem a vontade de cantar, continuava perdido nessa imensidão, procurando o meu verdadeiro lugar.
Talvez seja fácil pensar: o lugar de um passarinho é voando pelo céu... Porém qual o céu que devo percorrer, ele é tão imenso, quais as paisagens a qual pertenço? Será que realmente há um lugar em que eu deveria estar? Haverá um alguém a me procurar? E o tempo continuou passando, e o mundo a girar, eu cantava de janela em janela, procurando um mundo para pertencer, um alguém por quem eu sentisse vontade de cantar.
Quando eu já estava mais do que cansado, quando já não aguentava mais, ou acreditava que assim era, veio um pensamento, uma resposta pela qual minha pequena mente jamais havia buscado, uma resposta que não veio de uma pergunta, ela veio de forma tão natural, ela simplesmente aconteceu.
Eu tentava entender a profundidade de tudo aquilo. Era simples, parecia perfeito, mas ao mesmo tempo tinha tudo para dar errado, estava tudo na minha frente, porém a dúvida, maldita que sempre há de me perseguir, ela estava outra vez ali, parada, me encarando, me perguntando se eu iria novamente buscar outra janela ou se eu iria aceitar a verdade que eu acabara de encontrar.
Mas como passarinho cansado, por mais que eu pensasse em voar, ali parecia o lugar certo, o momento certo, era ali que eu descansaria minhas asas.

(e o mundo vai girando e as histórias também, o que estava terminado voltou em busca de um fim talvez um pouco melhor, e a saga continua, e vai continuar por mais um tempo!)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Meu lugar

Todos os dias, logo ao acordar, me pergunto o que será.
Me entrego outra vez as dúvidas que virão.
Escondo meus medos para alcançar meus sonhos.
Fecho os olhos para a solidão e, se preciso, invento meu próprio mundo.
Muitas vezes, antes de dormir, tento superar cada frustração.
Os NÃOs são sempre muitos, as derrotas são diárias.
Porém com o tempo sempre surgem belas flores.
Aos poucos vou criando meu próprio jardim.
Quem sabe um dia eu possa criar meu próprio lar.