terça-feira, 22 de maio de 2012

Pensamentos de passarinho XI

A noite foi longa e fria, mas sei que o frio não vinha de fora, ele estava dentro de mim, eu tremia pelo medo e pela ansiedade, foi difícil dormir. A mente a todo instante se perguntava se era isso mesmo, se eu deveria estar ali, a poucos dias eu havia conhecido outro lugar, um lugar que se parecia com um lar, mas agora eu estava ali, sem saber o caminho a tomar, sem saber se deveria arriscar, por fim decidi o que meu peito queria, talvez eu acabasse errando, acabasse ferindo ou sendo ferido, mas qualquer escolha diferente da que eu estava tomando me faria sentir o vazio dentro de mim, eu ficaria impaciente, começaria a agir estranho... Me conheço o suficiente para saber que não daria certo, ou talvez até desse mas apenas enquanto eu conseguisse me enganar, porém sei que sou muito ruim nesta arte.
Depois de muito pensar e pouco dormir o sol nasceu, eu estava cansado, sei que meu canto não era tão bonito, mas até parecia pior, o dia estava nublado, o dia parecia indeciso quanto a suas condições, calor, frio, chuva, sol, vento, estavam todos ali, presentes. Ele veio, mas também parecia perdido, como se ele simplesmente soubesse tudo aquilo que havia acontecido, tudo que se passava em minha mente, como se houvéssemos conversado sobre tudo, talvez realmente havíamos conversado, eu nunca entendi direito como se fazia essa comunicação entre nós, talvez as coisas já tivessem progredido muito mais do que o que eu imaginava, talvez já existisse algo realmente concreto, talvez parte dele já estivesse em mim, e parte de mim estivesse nele.
Seguiram-se algumas tardes confusas, manhãs cinzentas, um tanto de medo que transparecia não apenas de mim, mas também dele, e aqueles olhos que pareciam tristes me tornavam cada vez mais cativo, cada vez mais perdido em apenas uma vontade, e agora eu percebia que não era apenas a vontade de cantar ou ouvir seu canto, também não era a vontade de cantar junto, se bem que ainda não havíamos feito isso, mas conforme as coisas estavam andando, sei que isso não estava longe de acontecer, mas eu queria um algo mais, e é engraçado pensar sobre isso, pois eu tinha medo de desejar, muito medo.
Aos poucos as incertezas que haviam começaram a se desfazer, ao menos as que eram possíveis de tal coisa, pois é fato, algumas incertezas são eternas, talvez isso faça com que cuidemos mais das coisas, por isso não irei criticar a sua existência. Os dias foram novamente voltando a parecer dia, eram azuis, bonitos, e aos poucos comecei a ver as mudanças que estavam ocorrendo. As vezes ele não aparecia, por motivos próprios, eu sentia medo de que isso nos separasse, mas não podia mudar o mundo, as vezes era a minha vez de fazer o mesmo, nem sempre era possível estar ali, mas era evidente o quanto cada um queria estar perto, estar junto, passou um mês, passou outro e as coisas continuaram, as vezes em passos mais acelerados, as vezes em passos tímidos, porém no quarto mês algumas mudanças bruscas vieram.

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