sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Rainha da primavera

Ainda sinto os ventos do inverno percorrerem o meu corpo, porém já vem chegando a primavera, suavemente, ela não é paixão, não invade, ela vem aos poucos transformando o mundo com sua magia, ela toca as flores com suas mãos e elas se tornam botões que em breve explodiram em radiantes flores.
A rainha da primavera vem chegando em suas vestes leves, em seu vestido florido, com sua voz pueril canta o céu e as nuvens, não há sol demais, não há frio demais, o tempo morno e ameno vem chegando, trás o conforto do colo macio, é como uma música que começa gentil e vai nos tomando a dançar, se animando e esquentando a alma.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pensamentos de passarinho VI

Passei a noite lá, logo de manhã coloquei-me a cantar da forma mais bela que pude, afinal não sabia quantas vezes mais estaria ali para cantar, mas mais importante do que isso... Eu estava feliz. Uma felicidade estranha pois agora eu reparava algo que nunca havia notado, aquele que achava ser meu dono, nunca foi, ele era apenas o dono da gaiola. Mesmo que fechasse as portas e me prendesse, ainda assim eu não seria dele, era impossível ele ter o meu ser, pois apenas eu era dono de meus pensamentos e sentimentos. Assim como eu tentava entendê-lo a partir de meus olhos de passarinho talvez ele tentasse me entender por seus olhos de ser humano, mas mesmo que eu fosse humano ou que quem sabe ele fosse pássaro, ainda nos limitaríamos ao entendimento de nós mesmos.
O que eu poderia oferecer era aquilo que eu possuía, os céus que eu conhecia poderia cantar em belas notas todas as manhãs, e ele poderia toda noite me oferecer em carinhos os caminhos do chão.
Afinal, onde começa a terra?
Onde começa o céu?
Eles começam juntos e terminam juntos também, mas cada qual percorre o se caminho.
O partir, naquele momento, seria errado, pois seriam duas as tristezas. Se um dia minhas asas de passarinho me farão partir eu não sei, mas por enquanto quero cantar para ele em todas as manhãs sobre as tardes que passarei nos céus, e quero toda noite o conforto que ele pode me proporcionar.

FIM

(Primeira história mais longa minha que chega ao fim...Pode parecer bobo, mas eu realmente aprendi muito com meu passarinho...rs...espero que quem leu tenha gostado, agora preciso de um ilustrador, e quem sabe a história saia da net...^^)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pensamentos de passarinho V

Ali estava a gaiola, com sua porta aberta, do mesmo jeito que estava quando eu parti.
Não havia um novo pássaro, ela não havia sido fechada, também não tinha sido tirada de seu lugar, estava ali, pronta para me abrigar se eu quisesse. Entrei nela, era estranho voltar, podia ver como o espaço era pequeno, mas não nego que sempre me foi aconchegante ali, e continuava sendo.
Descansei em meu antigo lar, fiquei ali, comi um pouco, bebi, e esperei o dia ir passando, a casa continuava igual, mas não sei explicar, parecia um tanto mais azul, um tanto mais triste do que era quando eu parti, mas os móveis, as paredes, tudo continuava igual, mas o cheiro no ar, era pouca coisa mais triste, não sei como eu sentia isso, mas era um fato, pouco, mas era.
As sombras começavam a se projetar de forma alongada pelo chão pelo sol que se punha na janela, o dia tinha sido claro, de céu limpo, não muito quente mas não muito frio, um dia ameno, uma tarde amena. A porta se abriu com um ruído manso, sem grandes expectativas, ele entrou como sempre entrava, deixou suas coisas na mesa de centro, foi ao banheiro, deu uma passada na cozinha, isso tudo sem olhar para mim, quando voltou a sala me viu, não sei explicar o porque mas ele sorriu, um sorriso feliz como eu não sabia retribuir, não soube cantar no momento, talvez isso tivesse ajudado, ele fez menção de ir até a gaiola fechá-la, mas exitou, sorriu mais uma vez, porém um sorriso um pouco mais triste, acho que comecei a entender o que se passava, talvez a coisa fosse menos simples do que um partir e deixar partir.
Eu queria estar ali, ele queria que eu estivesse ali, mas assim como apesar dos pesares, apesar dos quereres eu jamais me sentiria bem em prende-lo talvez ele também se sentisse assim, talvez ele apenas quisesse ver meu canto livre e feliz, como poderia eu explicar a minha alegria em estar junto a ele se um dos maiores medos dele era se prender?
Talvez eu pudesse chamar aquilo de amor, acho que aprendi um sentimento novo, porém não consigo exercer nele o desapego, continuo sem saber se o melhor para ele seria não me ver mais ali, não pensar mais que eu estava preso, apesar de em momento algum eu me sentir assim, queria lhe dizer que eu estava ali por vontade própria, sim, o mundo é lindo e possui muitas coisas a serem vividas, mas eu não saberia experimentar o mundo, saber o gostos das coisas se antes não houvesse existido ele.
Não pediria para que me prendesse, mas para que aceitasse que eu gostava de estar ali, naquela pequena e aconchegante gaiola, onde eu sabia que ele me procuraria, eu gostava do fato de sempre que ele quisesse que conseguisse me encontrar, se eu estivesse sempre a voar como nos encontrariamos? Pois ele também tem o mundo dele, também segue pelos caminhos da terra, como eu saberia quando voltar para vê-lo? Se eu estivese sempre ali não haveriam erros, não haveriam desencontros, haveria o carinho que havia todos os dias, os cantos alegres de bom dia.
Aquela noite meu lugar era ali, queria saber o como seria e o que aconteceria, mas a única forma de responder essa pergunta era vivendo aquele momento.

(últimos momentos de passarinhices no próximo post acabarei a história)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pensamentos de passarinho IV

O vento batendo nas asas, as asas batendo no vento. O céu cinza sobre minha cabeça, os carros a buzinar nas ruas, o mundo todo a baixo de mim, um turbilhão de pensamentos, entre eles a vontade louca de ceder, de voltar, de continuar onde eu estava, dentro do mundo que eu conhecia tão bem, dentro da minha pequena gaiola, aquela que me trazia tantas lembranças de momentos bons, apesar de suas grandes, apesar de todos acharem triste, ali eu cresci, era o mundo que tinha, não o céu infinito e amedrontador, ser livre dava medo.
Fechei os olhos para fugir da mente, estranho dizer isso, mas com os olhos fechados eu via menos coisas irreais do que de olhos abertos, não sei o porque, mas era mais fácil sentir a realidade assim, continuei meu vôo sem saber qual caminho tomar, seguia em frente, seguia reto, começava a ver árvores, canteiros, um parque se formava em meu horizonte.
Pousei pela primeira vez em um galho, ele era firme, de textura interessante, podia ouvir o canto de outras aves, e elas cantavam felizes, talvez elas fossem felizes por nunca terem conhecido o que era viver com alguém, talvez não conhecessem os prazeres de cantar toda manhã para aquele de quem gostavam, ou talvez eu quem estivesse errado, não soubesse o que era ser livre, não comprendesse essa alegria em não ter algo que me motivasse, de ser apenas eu por minhas próprias penas, como disse aquilo tudo me assustava, desde sempre estive naquele meu pequeno mundo...
Observava o mundo, me via também sendo observado, crianças curiosas vinham olhar, adultos um tanto alegres apontavam uns aos outros o meu ser, ali parado na árvore, quem sabe para eles eu fosse um pássaro interessante, talvez aquele que me libertou não soubesse de meu valor, não entendesse que eu era sim especial e que por isso deveria me manter junto a ele, deveria querer sempre que eu estivesse perto.
Assim como a manhã passou rápido o dia também passou, e eu fiquei ali, vendo a noite, observando novas criaturas, novas formas de sobrevivência, aprendendo a me alimentar sozinho, buscando sementes no chão, procurando um abrigo, por sorte encontrei um ninho que parecia abandonado, um lugar que não era dos mais confortáveis, mas que no momento era tudo que eu precisava, era estranho viver na base das necessidades, mas tinha que aproveitar.
Aproveitei aquele lar, aproveitei o parque, aproveitei os céus, experimentei todos os tipos de manobras que minhas asas eram capazes de fazer, cruzei os ventos, voei com toda a velocidade, voei de forma tranquila e lenta, peguei carona em massas de ar quente, subi o máximo que pude e desci com toda a velocidade até quase bater no chão, e sem querer, em tanto voar, sem saber muito bem para onde ia, acabei por voltar, por ver novamente aquela casa, fiquei na janela, sem saber se entrava, pois ela estava aberta, a pequena gaiola (pequena pois agora sabia o que era realmente algo grande) continuava aberta. Eu precisava entender algumas coisas, e ali era o lugar para isso.

(Começo a enchergar um fim)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pensamentos de passarinho III

Desta vez eu não quis cantar pela manhã, não quis comer a comida que me deram, queria algo mais que não sabia dizer, era um dia cinza, frio, não era um dia que dava vontade de sair, não dava vontade de voar pelos céus, mas também não dava vontade alguma de permanecer ali.
Um dia onde a única vontade era deixar o tempo passar, talvez tudo voltasse ao normal, talvez se eu fizesse greve, se eu não cantasse mais ele tivesse piedade de mim, tivesse pena de uma pobre ave entristecida e me desse mais carinho e cuidasse para que eu não me deprimisse mais.
Ele saiu pela manhã, passou o dia fora, não voltou até o anoitecer, era difícil ficar olhando, via a janela aberta, o vento nas árvores, o dia nublado, mas era notável que não iria chover, o cheiro de fumaça de carros entrando pela janela, o ruído da cidade que cercava a casa, o desgosto pelo lugar pairava em meu ser, o desgosto pela situação, pelo dia, por ele.
Sai da gaiola, circulei pela casa, vi fotos no mural, nenhuma minha, vi toda a casa, um ambiente que já não parecia fazer parte de mim, um lugar que me deixava sem escolhas, uma vontade imensa de partir, de nunca voltar, uma raiva do mundo, como se todos fossem culpados por aquela situação, as rádios que diziam que não se devia prender os animais, mas e quando o animal queria? E o nosso direito de ficar? De querer? E se nossas asas estivessem cansadas desse mundo que os homens criaram? Dessa natureza que é lutar pra viver? E se eu simplesmente quisesse o conforto, a paz, quisesse apenas cantar para ele todas as manhãs? Ainda não consigo entender o motivo da gaiola aberta, do querer que eu parta e o carinho, por mais que a razão entenda, meu coração de passarinho fica aqui, nessa angustia, nesse não saber o que fazer, se eu partir hoje, amanhã a gaiola ainda estará aberta para eu voltar?
Creio que é a hora de descobrir isso, mas o que vai acontecer se eu não voltar? Ele vai entristecer? Não há como saber sem partir.
De asas esticadas, no parapeito da janela, fecho os olhos, dou impulso, bato as asas com força até encontrar uma corrente de ar e me deixar levar... Eu sei o caminho de volta, mas já não sei mais como olhar para trás, se o fizer sei que não terei forças para continuar a jornada.

(é a saga tá realmente rolando)

Cachoeira

Rios que correm velozes
Desaguam na mata
Desfazem no chão
E sobem aos céus

Derrama suas águas
Assim como derramo eu
Refresca o mundo
Refresco minh'alma

Pensamentos de passarinho II

Ontem passei o dia todo com a gaiola aberta, não ousei sair dela. Ele me alimentou como de costume, mas não fez mensão de fechá-la, cheguei a pensar que ele já não me quisesse lá, que pensasse em me substituir por um pássaro mais belo, de canto mais bonito, porém ele também não teve a atitude de me arrancar de meu lugar, e dúvido que em algum lugar houvesse alguém que cantasse a ele com tanta vontade.
Hoje como de costume acordei-o com um canto, não nego que não foi o mais incrivel, mas como sempre o fiz com todo prazer, antes de hoje nunca havia me perguntado se por acaso meu cantar lhe era incomodo, se meu acorda-lo o atrapalhava, mas hoje foi diferente, exitei, contudo, minha vontade venceu.
Algumas vezes quando ele passava a a tarde sem nada fazer vinha até mim, e com um afago me fazia trinar a ele, hoje poderia ter sido um dia desses em que poderia ser afagado e cantado uma bela canção, mas não foi.
É confuso tudo que vejo, se ele aoenas não me trouxesse mais comida saberia com certeza que já era hora de partir, mas tudo continuava como antes, algumas vezes com menos afagos, outras com mais... Mas a porta se mantinha aberta, e eu continuava sem saber.
Por falta do carinho deste dia fiquei um tanto triste, um tanto revoltado e sai da gaiola, fiquei a espera num canto em que ele não haveria de me encontrar, não sei se me procurou, mas eu voltei ao "meu lugar".

(Fim da segunda parte...e haverão outras?)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pensamentos de passarinho

(Esse texto foi escrito para ser solo, porém em um curto espaço de tempo acabou por surgir uma continuação, e não pude deixar de escreve-lo, não sei se haverá continuação além da próxima, mas se houver com certeza irei postar, em breve coloco no ar a segunda parte da história)

Estou livre. É estranha a sensação, olho para frente e não vejo grades, não vejo a porta, vejo o céu azul, as núvens e nada me separa disso. É grande o medo, afinal estava ali de forma confortavel, gostava de meu estado, me cuidavam, eu possuia comida, não havia do que reclamar, meu canto era feliz.
Mas agora, haviam aberto a gaiola, de proposito, para que eu fosse embora, talvez não me quisessem mais ali, talvez fosse realmente a hora de ir embora, de partir, de voar com toda a liberdade de minhas asas, carregar comigo as lembranças mas me desfazer de tudo que havia.
De asas abertas ainda titubeava, não sabia o que escolher, poderia ficar ali até que fechassem novamenta a gaiola, até que viessem mais uma vez me alimentar, mas talvez isso não acontecesse, talvez eu esperasse em vão, talvez a única coisa que houvesse fosse o céu azul a minha frente.
Pois e se ele ficasse triste ao vontar e ver a gaiola vazia? Eu não queria isso. Talvez ele acreditasse que eu poderia voltar para cantar toda manhã em sua janela, e isso realmente seria possivel, mas a questão é que com minhas asas queria ir longe, se fosse para voar que voasse o céu inteiro, que conhecesse cada canto do mundo, e então não haveria mais tempo para voltar, teria me perdido de casa, não teria mais lar, me manteria eternamente livre, talvez não tão feliz quanto um dia fui, mas estaria para sempre em busca de preencher cada parte de me ser com algo completamente novo, e não sobraria mais espaços para o que foi.

sábado, 14 de agosto de 2010

Uma noite de silencio

O silencio é como um véu que cai sobre nós, nem sempre precisamos das palavras, o mundo a nossa volta esta em silencio, e mesmo que quisesse dizer algo, creio que não saberia como.
A noite vai passando sem pressa, não sei deixar o sono vir, pois sei que noites como esta serão poucas por um bom tempo, e um dia talvez não existam mais, então não quis dormir, quis sentir, quis ver, quis olhar, quis tocar, quis aproveitar.
Quis dizer, quis calar e quis sonhar que assim seria, e assim será.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sobre as palavras que não são ditas

Algumas coisas nunca deveriam ser deixadas para serem ditas depois, algumas pequenas verdades que nos parecem na hora sem importância, mas o tempo como grande destruidor pode passar, passar até o ponto em que nada mais pode ser dito, e nessas horas a memória que poderia se mostrar fraca se põe mais revigorada do que nunca e permanece assim, sempre mostrando onde erramos, o que não fizemos e aquilo que não dissemos.
Talvez assim não erremos novamente, mas o mais provável é sempre cometermos os mesmos erros até que nos cansemos da vida e desistamos. Eu muitas vezes disse coisas que deveria ter calado, hoje atormento-me com a pergunta de porque não disse em lugar do que deveria calar aquilo que eu realmente sentia, porque não falei sobre as coisas que me eram realmente importantes.
Sou como sou por aquilo tudo que fiz, mas sou como sou principalmente por todas as coisas que deixei, por todas as vezes que menti e por todas as dores que senti e que finjo que esqueci. Queria ter dito seu nome mais vezes, ter dito o quanto precisava e principalmente queria ter dito a cada instante o quanto te amava. Mas agora já não sei mais o que posso dizer.

Sobre crescer

Crescer não é um estado de espirito nem um status que ganhamos ao passarem os anos, não tem muito haver com a altura ou com o número de velas em nosso bolo. Crescer tem mais haver com aprender a tomar as atitudes que nos são esperadas e não só as atitudes que realmente queremos tomar.
Não é deixar o mundo se tornar cinza, é saber que as vezes realmente não há motivos para sorrir, mas que mesmo assim o melhor é levantar a cabeça e fazer aquilo que nossos pais sempre nos ensinaram que era errado fazer, devemos mentir, mostrar um belo sorriso que realmente não nos pertence, um sorriso vistoso com cara de final de conto de fadas, e com isso aprender que esse sorriso falso que mostramos, quando bem feito, pode servir de espelho para alguém ser forte, e que ver esse alguém se superando pode gerar o mais gratificante sorriso.
Talvez crescer seja saber que nada é perfeito, e mesmo assim conseguir sorrir com a esperança de que sorrisos verdadeiros ainda virão.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Quando a minha poesia morreu

Eu sempre gostei muito de poemas, desde sempre lia e lia muito, e me encantava com as rimas, com os versos métricos e com toda aquela coisa que eu nunca soube ao certo fazer, mas mesmo assim, sem saber de que se alimentava e como cria-la, eu insisti e criei a minha própria poesia, ela era fraquinha, meio mirradinha, mas se alimentava diretamente de meus sentimentos, de certa forma eles não deviam ser muito nutritivos pois eu ainda era muito nova para saber sobre sentimentos mais fortes e poderosos. Ela foi crescendo assim sem muita cara de esperta, com uns olhinhos fundos mas que pareciam enxegar mais ao longe que os meus, de quando em vez ela me ajudava a escrever uns versos meio quebrados, uma ou outra vez até conseguiu me fazer usar rimas, usar a métrica, mas ela vivia a me dizer que aquele não era o meu jeito, que eu estava forçando a natureza, que eu deveria deixar ela ser livre e não ficar quebrando as linhas para forçar os versos.
Pois um dia, assim sem querer, eu esqueci de mudar de linha, foi um momento complicado, vi minha poesia se contorcer, ela estava chorando, ela sentia a dor de eu ter fugido a regra e as outras normas, aquilo que estava ali não era mais poesia, eu havia matado, matei sem querer aquela poesia que eu havia suado tanto para criar, aquela que mesmo frágil me ajudara a passar por tantos sofrimentos.
Algum tempo depois fui olhar a pobre poesia, ela realmente não estava mais lá, porém no lugar onde ela estava deitada havia uma pequena semente, e como lembrança de minha poesia comecei a cultiva-la, agora estou passo a passo colhendo os frutos e conhecendo um novo mundo, pois agora crio a prosa, e essa acho que viverá por muito tempo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre a partida

Desde nosso nascimento deveríamos acostumar com a partida, logo que nascemos nos despedimos daquele ambiente quentinho e úmido para adentrarmos um universo novo e estranho, porque não dizer até mesmo doloroso. Algum tempo depois nos despedimos de nossas mamadeiras, chupetas nosso berço, nosso amigo imaginário nosso cobertorzinho, ursinhos, são diversas despedidas, talvez vendo agora elas pareçam até sem importância, mas se parar para pensar no que é o mundo de uma criança, quais as coisas que as mantém...
Mas a vida não para por ai, nós abandonamos nossas professoras ano após ano, série após série, damos tchau como se fossemos vê-las a cada esquina, mas o tempo passa e sobra só a lembrança dos dias bons, e vamos crescendo e abandonando mais e mais coisas, perdemos os dentes, todos aqueles dentes pequenos e branquinhos, algumas mães até os guardam como recordação, mas eles já não nos servem mais, nossas roupas que tanto amávamos, vamos perdendo a cada centímetro que crescemos, e assim a escola que chamamos de vida vai nos ensinando sobre as perdas e sobre a partida.
Porém o que a muitos acontece é menosprezar cada fato, cada pequena tristeza, não parar para ver aquilo, não contemplar o instante que o sol se põe, o instante da perda, apenas pensamos no que irá vir depois, e fazemos isso com tanta destreza que não nos incomodamos mais, vamos perdendo, perdendo cabelos, perdendo os sorrisos, perdendo as lágrimas, perdendo sempre e cada vez mais.
Mas então a vida vê que nós ainda não entendemos, que estamos deixando passar o momento, que não damos mais importância para as pequenas perdas, e como é sábia ela sabe a hora de acontecer, para que nós realmente percebamos, e ela nos leva algo que não pode ser substituído, algo que seja como for nos fará sempre falta, que por mais que pensemos de forma positiva, não há o que se fazer, algo que deixe sempre aquela saudade, aquele vazio aquele espacinho em branco, ela nos leva um amor grande, um amigo próximo, um parente querido, mostra a sua força, e nós que não aprendemos quando crianças tudo o que nos foi ensinado aos pouco precisamos aprender de forma abrupta o que é realmente a partida.

O gato e o peixe

Ele olhava intrigado, como poderia uma criatura assim tão pequena estar naquela água tão fria sem se congelar? Como estaria ele ali sem se preocupar, sem morrer afogado? Algumas vezes ele até já tentara entrar na água, mas realmente não foi nada nada agradável e como gatinho de boa índole ficou um tanto quanto preocupado com a criaturinha que se movia de forma estranha ali na água fria.
Mas fazer o que, se o ser queria e parecia gostar...
Porém aquilo realmente o deixava aflito, tão bela criatura, com aquela cor de sol, que brilhava enquanto se movia, aquele laranja amarelado que refletia a luz da janela que incidia sobre ele, o gatinho olhava extasiado a cena bela do peixinho no aquário, olhava sem saber o que pensar, olhava sem saber o que fazer, olhava e a cada olhar se sentia mais perdido, e a cada olhar se sentia mais próximo ao peixe, a cada olhar desejava mais ajudar, desejava mais o peixe.
Em um ato de bravura saltou sobre a mesinha onde estava o pequeno aquário, puxou o aquário contra si, mas o peso deste havia lhe parecido bem menor em sua imaginação de gatinho, não aguentou, o aquário, a mesa, o peixe, o gato, a água... Foi tudo ao chão.
Os vidros do aquário se espalhavam pelo chão, a água lentamente ia se transferindo para outros cômodos da casa, e o gatinho ainda tonto procurava onde estava o belo peixinho, quando sua vista o encontrou ele estava ali, ao seu lado saltando de felicidade, o gatinho se encostou nele para esquenta-lo depois de ele ter saído daquela água tão fria, se aproximou e deitou junto ao peixinho que logo se acalmou, e o gato junto ao peixinho adormeceu.
O gatinho aquela tarde teve um sonho colorido, onde estava junto de seu querido peixe, eles brincavam em terra, ele admirava as cores do pequeno ser, era um sonho belo e que ele não gostaria de esquecer, porém o peixinho não mais sonhou.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sobre ser mulher

Dentre as tantas coisas que fiz e que me fizeram posso dizer que um dia fui amada. Já tive um amor de infância que me amou, mas antes que pudesse haver algo este amor descobriu a amizade e descobriu também...que eu não fazia seu tipo, ou melhor que eu não era do gênero certo para ele. Já amei em segredo sem jamais contar a ninguém de meu amor, sem nunca ser descoberta até que o sentimento se desfez. Já tive sonho românticos com pessoas inimagináveis algumas das quais nunca cheguei a conhecer. Já fiz parte dos sonhos de alguém antes mesmo de conhecê-lo. Vivi um romance que se acabou. Fui amada por alguém que amei, e amei alguém que nunca me amou. Já odiei com todas as forças e fui odiada, já fui invejada e já invejei, sonhei com coisas que jamais cheguei a ser. Amei a pessoa certa mas deu errado e com a pessoa errado foi muito mais longe do que podia ser. Sonhei com príncipes encantados rebeldes e amores eternos. Vivi um para sempre que se acabou e vivi alguns dias que duraram por anos. Já corri atras e corri atras de novo, e para não cansar corri atras mais uma vez, e também já deixei que fossem atras de meus passos fingindo não perceber. Cheguei aos céus com um mero beijo, já cheguei aos céus com um dar as mãos já me senti um lixo com apenas um olhar e já me rebaixei por ouvir um não. Já chorei de amores, já ri de raiva, e quando nada mais serviu quis muito a morte porém fui mais forte. Já desisti de comer já desisti de sonhar já desisti de tudo o que havia para ser e já desisti de desistir. Já fiz um diário e me esqueci dele, escrevi contos e sonhos e rasguei muitos poemas, derramei lágrimas sem fim sem nem mesmo saber o porquê, tive um melhor amigo que partiu, uma melhor amiga que se foi, fui confidente e confidenciei sem me preocupar com o depois. Já bebi até cair, falei besteiras fiz coisas erradas e que se tornaram histórias para hoje eu sorrir. Comi até me empanturrar e depois pensei que aquilo tudo iria me engordar, mas nem liguei. Já me arrumei sem ter motivos, me senti maravilhosa e deslumbrante e também já estive linda me achando horrorosa, já tive espinhas em dias de festa, já me troquei infinitas vezes sem achar a roupa que eu queria e desisti de sair. Fiz manha, fiz birra desisti do que queria sem saber me explicar nem ao menos para mim. Tive TPM e briguei com o mundo e mandei tudo explodir. Já terminei namoros e chorei por não ser o que eu queria, já enfrentei o mundo por coisas que nada valiam, fui mulher decidida e indefesa, fui rainha e também já fui princesa, quis o céu em terra mas nada encontrei, hoje sou alguém que busca aquilo que ainda há de ser.

Começando

Olho para cima, olho para baixo, para os lados, procuro incessantemente por algo que ainda não sei ao certo o que é. Parece não haver nada que possa ajudar, coisa alguma, de forma alguma, nada que pareça ser aquilo que deveria. Os dias que vão passando me mostram aquilo que não estou procurando, mas continuo sem saber o que é que deveria ser. Tento mudar meu olhar, tento mudar meu ser para ver novos horizontes, tento buscar o que um dia eu quis ser, mas parece sempre tudo em vão... A ordem de agora não é a busca a ordem é a calma, calma essa que nunca soube ter, esperar nunca foi-me um ponto forte, buscar, movimentar agir, chegar, esses sim são meus amigos, já os conheço de muitas guerras, talvez agora seja o momento de criar novas qualidades, creio que sempre é hora para o novo, mesmo que este novo esteja vindo a passos tão lentos.
Sinto uma certa angustia que parece me sufocar, que brinca de congelar minha mente, meu coração, como se eu não pudesse mais sentir nada, uma angustia pelo não, ou pior, uma angustia pelo talvez, nunca soube encarar o talvez, afinal para mim sempre foram dois os caminhos, o sim, o não, o ir o voltar, nunca o esperar, nunca o talvez... Mas eis que ele esta aqui, parado diante de mim, um grande um reluzente talvez que me deixa sem escolhas, um talvez que eu devo esperar se tornar um sim ou um não, um talvez como outros já tive mas que não soube esperar pela resposta, que não quis ver em que se tornariam, que simplesmente segui em frente criando minhas próprias respostas, sempre sozinha, sem esperar por aquele que eu esperava, sempre fui eu quem parti, sem olhar para trás, uma fuga para minha falta de coragem de esperar e não receber nada em troca.
Quem sabe agora, mudando de ares, tentando ganhar a confiança que necessito aprendo também a esperar, a ver o talvez se transformando, como uma borboleta ao sair do casulo, um talvez se tornando um lindo sim, ou um resoluto não, mas que ao esperar eu possa seguir em frente, sabendo que não perdi o momento crucial, a transformação, o que me permitiria sim ter novamente a escolha e dois lados a seguir, e não apenas o da fuga.

domingo, 1 de agosto de 2010

Poeira ao vento

São tantas as canções que passam por minha mente, mas como dito elas apenas passam, se desfazem na mente, vão recordando de momentos que já foram, como dito foram. De cada momento o que resta são apenas memórias vazias que aos pouco deixam de ser inclusive isso, se tornando menores do que um pequeno grão de areia no deserto, tudo o que já foi se desfez. Os sonhos são apenas sonhos e atravessam nossas mentes trazendo pequenas porções de alegrias, mas essa alegria também é passageira, como tudo o que há no mundo, nada sobra. Os olhos que vejo não são os mesmos olhos que um dia olhei, são outros, talvez mais belos, talvez mais tristes, eles mudaram dia a dia, cada célula que havia se foi, e o olhar que entrega agora é diferente, pois traz a dor de tudo aquilo que passou, tudo aquilo que veio depois dos primeiros olhos.
Minhas mãos já não são mais as mesmas que com carinho seguraram a sua, que com medo acariciaram seus dedos, que quiseram tomar seu rosto e sentir seus lábios, elas ganharam um pouco mais de força, apesar de a cada momento precisarem mais de suas mãos a segurá-las, elas calejaram de algumas coisas, mas são tantas coisas que ainda existem, que elas estão aqui esperando por quem resolva segurá-las. Mas o mundo vai passando junto ao vento, a olhos vistos as coisas se transformam, não há como saber o que vai ficar, pois no final, nada realmente fica, tudo é apenas poeira ao vento.