quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pensamentos de passarinho V

Ali estava a gaiola, com sua porta aberta, do mesmo jeito que estava quando eu parti.
Não havia um novo pássaro, ela não havia sido fechada, também não tinha sido tirada de seu lugar, estava ali, pronta para me abrigar se eu quisesse. Entrei nela, era estranho voltar, podia ver como o espaço era pequeno, mas não nego que sempre me foi aconchegante ali, e continuava sendo.
Descansei em meu antigo lar, fiquei ali, comi um pouco, bebi, e esperei o dia ir passando, a casa continuava igual, mas não sei explicar, parecia um tanto mais azul, um tanto mais triste do que era quando eu parti, mas os móveis, as paredes, tudo continuava igual, mas o cheiro no ar, era pouca coisa mais triste, não sei como eu sentia isso, mas era um fato, pouco, mas era.
As sombras começavam a se projetar de forma alongada pelo chão pelo sol que se punha na janela, o dia tinha sido claro, de céu limpo, não muito quente mas não muito frio, um dia ameno, uma tarde amena. A porta se abriu com um ruído manso, sem grandes expectativas, ele entrou como sempre entrava, deixou suas coisas na mesa de centro, foi ao banheiro, deu uma passada na cozinha, isso tudo sem olhar para mim, quando voltou a sala me viu, não sei explicar o porque mas ele sorriu, um sorriso feliz como eu não sabia retribuir, não soube cantar no momento, talvez isso tivesse ajudado, ele fez menção de ir até a gaiola fechá-la, mas exitou, sorriu mais uma vez, porém um sorriso um pouco mais triste, acho que comecei a entender o que se passava, talvez a coisa fosse menos simples do que um partir e deixar partir.
Eu queria estar ali, ele queria que eu estivesse ali, mas assim como apesar dos pesares, apesar dos quereres eu jamais me sentiria bem em prende-lo talvez ele também se sentisse assim, talvez ele apenas quisesse ver meu canto livre e feliz, como poderia eu explicar a minha alegria em estar junto a ele se um dos maiores medos dele era se prender?
Talvez eu pudesse chamar aquilo de amor, acho que aprendi um sentimento novo, porém não consigo exercer nele o desapego, continuo sem saber se o melhor para ele seria não me ver mais ali, não pensar mais que eu estava preso, apesar de em momento algum eu me sentir assim, queria lhe dizer que eu estava ali por vontade própria, sim, o mundo é lindo e possui muitas coisas a serem vividas, mas eu não saberia experimentar o mundo, saber o gostos das coisas se antes não houvesse existido ele.
Não pediria para que me prendesse, mas para que aceitasse que eu gostava de estar ali, naquela pequena e aconchegante gaiola, onde eu sabia que ele me procuraria, eu gostava do fato de sempre que ele quisesse que conseguisse me encontrar, se eu estivesse sempre a voar como nos encontrariamos? Pois ele também tem o mundo dele, também segue pelos caminhos da terra, como eu saberia quando voltar para vê-lo? Se eu estivese sempre ali não haveriam erros, não haveriam desencontros, haveria o carinho que havia todos os dias, os cantos alegres de bom dia.
Aquela noite meu lugar era ali, queria saber o como seria e o que aconteceria, mas a única forma de responder essa pergunta era vivendo aquele momento.

(últimos momentos de passarinhices no próximo post acabarei a história)

Um comentário:

.anabêa disse...

È engraçado,parece que entendo essas dúvidas,e a necessidade do tempo e de experiência para resolvê-las,imagino que caminhos ainda têm de ser trilhados antes de decidir por completo a tranca da gaiola e de qualquer forma, o pássaro e ele deixaram suas marcas,cheiros e ruídos na mesma gaiola que chamavam de lar.

Lindas metáforas passarinho :)

.kisses