segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pensamentos de passarinho VII

Já se passou muito tempo desde que estive aqui falando sobre mim. A gaiola, o céu pelo qual voava, o rapaz que havia deixado a gaiola aberta e que eu não sabia se queria que eu ficasse ou parti-se.
A muito se passou a dúvida, tantas vezes fui, tantas vezes voltei, em algumas dessas vezes ensaiei a fuga, parti sem deixar vestígios, sem olhar para trás. Mas sempre era difícil, mas chegou um tempo em que toda a minha alegria, todos os sonhos começaram a morrer.
O céu já não era mais o bastante para mim, a gaiola meio aberta, aquela casa, aquele rapaz, as cores estavam morrendo e meu coração de passarinho chorava a cada nota que eu tentava cantar.
Eu parti, ou talvez ele tenha me posto para fora, a questão é que ambos estávamos perdidos, e eu sabia que se voltasse estaria para sempre preso na angustia.
E dessa vez a partida realmente foi para sempre.
Algumas vezes encontrei com ele pelo meu caminho, porém ele fingiu que não era eu, ou simplesmente não me reconheceu, e eu não fui até ele.
Segui por meu céu, segui pelas nuvens, fui me apaixonando pelo mundo, vivendo alguns novos sonhos, tentei viver em outro lar, uma nova gaiola, um belo poleiro, um lugar em que eu era alimentado, em que eu era tratado como um rei, porém eu continuava sem a vontade de cantar, continuava perdido nessa imensidão, procurando o meu verdadeiro lugar.
Talvez seja fácil pensar: o lugar de um passarinho é voando pelo céu... Porém qual o céu que devo percorrer, ele é tão imenso, quais as paisagens a qual pertenço? Será que realmente há um lugar em que eu deveria estar? Haverá um alguém a me procurar? E o tempo continuou passando, e o mundo a girar, eu cantava de janela em janela, procurando um mundo para pertencer, um alguém por quem eu sentisse vontade de cantar.
Quando eu já estava mais do que cansado, quando já não aguentava mais, ou acreditava que assim era, veio um pensamento, uma resposta pela qual minha pequena mente jamais havia buscado, uma resposta que não veio de uma pergunta, ela veio de forma tão natural, ela simplesmente aconteceu.
Eu tentava entender a profundidade de tudo aquilo. Era simples, parecia perfeito, mas ao mesmo tempo tinha tudo para dar errado, estava tudo na minha frente, porém a dúvida, maldita que sempre há de me perseguir, ela estava outra vez ali, parada, me encarando, me perguntando se eu iria novamente buscar outra janela ou se eu iria aceitar a verdade que eu acabara de encontrar.
Mas como passarinho cansado, por mais que eu pensasse em voar, ali parecia o lugar certo, o momento certo, era ali que eu descansaria minhas asas.

(e o mundo vai girando e as histórias também, o que estava terminado voltou em busca de um fim talvez um pouco melhor, e a saga continua, e vai continuar por mais um tempo!)

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