segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pensamentos de Passarinho IX

Mais um dia vem, mais um dia vai e o tempo continua a passar, o medo cresce cada vez que o momento parece chegar, porém o momento sempre parte sem eu nada tentar.
Mas como sempre uma hora chega e não dá mais para escapar, as coisas acontecem como deveriam acontecer, e eis que o passarinho que cantava resolve se aproximar, pousa ali ao meu lado, não diz nada, mantém estável o seu cantar, as vezes olha para o lado, as vezes finge que eu não estou ali, outras vezes posso jurar que o único motivo de ele estar ali... Não, não deve ser.
E o primeiro dia dele, ali ao meu lado se passa, não nego a vontade que senti de cantar junto, de compartilhar de verdade o momento, mas não sei o que ele pensaria. Talvez eu devesse ser mais direto, talvez eu devesse me preocupar menos, afinal, eu já não tenho nada, o que poderia perder? Na verdade eu sei o que eu perderia, perderia a esperança, o sonho de que aquilo que esta acontecendo pode crescer, que eu posso encontrar ali um abrigo. Mas afinal, eu não tinha dito que ele não poderia me oferecer um abrigo? Acho que de repente as coisas começaram a mudar mais do que eu esperava e tudo por causa de uma simples companhia, me pergunto o quão complexo pode ser um relacionamento. As vezes é mais fácil fechar os meus olhos e simplesmente voar pelo mundo, sem saber o caminho, apenas sentir o vento em minhas asas, apenas sentir os cheiros, ver o sol se pôr e dormir, esquecer que existem pensamentos, o problema é que sempre que chega a noite, sempre que não tenho mais os céus, vem esse sentimento de vazio, e agora com tudo isso que tem acontecido, com o novo pássaro, com essas novas esperanças, a sensação de vazio tem se tornado cada vez mais recorrente, meu ser quase grita pedindo para que eu entre em contado me dizendo que tudo o que me falta, que tudo o que preciso para preencher este meu vazio esta ali, pousado ao meu lado, cantarolando uma linda canção sem parecer se preocupar com o dia de amanhã.
Pois é passarinho, a vida é complicada para nós, ou seria simples e nós é que a complicamos?
Estava decidido, amanhã, sem falta!
Quando ele pousasse ao meu lado eu começaria a cantar junto, ou quem sabe antes mesmo que ele começasse a cantar, cantaria eu, cantaria olhando em seus olhos para que ele soubesse que aquela música não era para ninguém mais além dele, e quem sabe então ele resolvesse cantar comigo, quem sabe ele quisesse também ouvir minha canção, e ele só estivesse ali ao meu lado por todos estes dias a espera desta canção. Quem sabe a partir daquele momento as coisas se tornassem mais completas e mais belas.
Mas mais uma vez, dentro de meu medo, dentro de meu pequeno corpo de passarinho, enterrei minhas esperanças, aguardaria um dia a mais, mas desta vez seria o ultimo dia de espera, ou pelo menos era isso o que eu estava dizendo a mim mesmo, a partir de amanhã as coisas seriam diferentes, ele iria ouvir a minha voz também. Será que gostaria? E mais uma vez meu coração batia acelerado, a espera do novo dia, a espera do momento perfeito, o desejo era grande, talvez até maior do que o medo.

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