sábado, 9 de outubro de 2010

Um grande teatro

De frente encaro sua face, as verdades jogadas, servidas sobre a mesa, os medos, os pudores, as farsas, as meias verdades, todas postas, os cálices que não mais se calam. Meus olhos passeiam pelo esdrúxulo cenário, como se não fizessem parte da cena, porém são parte do adorável espetáculo que se apresenta.
As pessoas que assistem de fora devem a cada instante compreender menos a peça que apresentamos, hora de um lado, hora de outro, eles podem ver os desejos, eles sabem pensamentos, mas não compreendem as ações.
Eu que faço parte da atuação me perco em algumas falas, me enrosco em uma vontade de mudar simplesmente o roteiro, parece que tudo fora escrito previamente para que os espectadores pudessem se divertir com a cara de nós, atores, que não sabemos da peça, como se eles soubessem mais do que nós, mesmos sem nada saber.
A comédia se mistura com o drama, o terror se afoga em romances, a linearidade se perde minuto a minuto, é quase um circo que vai se criando, pois a unica reação que parece ter lógica é rir dos absurdos.
E estou lá no palco, vejo meu ser, eu nua, mostrando tudo o que sou, expondo segredos, mostrando a alma, deixando o teatro me levar para onde devo ir, as vezes choro em desespero, ou ver esse meu corpo, sinto vergonha, sinto asco daquilo que vejo como eu. Em outros momentos me ergo, sou dona de mim e faço-me ser o que eu quero.
Aquele que atua a minha frente tenta com mais força que eu esconder suas vergonhas, seus passados, mas tudo esta sempre diante de nós, mãos não são suficientes para esconder os elefantes de nossas salas de estar.
Uma hora as cortinas se fecham, o silêncio dos atores, e vemos o mundo discutir nossas vidas, algumas coisas são úteis, aprender com o que falam, outras são apenas réstias. Talvez no silêncio de nossas mentes recriemos o espetáculo que acabou de ser, mudando as falas, sei que ao menos para mim é assim, mas o que foi apresentado não se repete mais.
E as cortinas sempre voltam a se abrir, para que um novo ato se inicie, as vezes os atores mudam, as vezes a platéia se levanta e aplaude, as vezes ela simplesmente sai, e só sobram as luzes a iluminar a imensidão de nossas idiotices.

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