sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Pensamentos de um gato


Desde muito nova sou um gatinho complicado de entender. Dentre os meus nasci com algumas característica que todos elogiavam como qualidade mas que com o tempo aprendi  serem também um tipo de defeito.
Eu ouvia os outros e me preocupava, eu queria fazer, queria ajudar, queria ser mais... Não para me mostrar como a melhor dentre todos os gatos, isso nunca me importou. Mas para eu me orgulhar de mim, saber que fiz o meu melhor, que me dediquei e que independente do mundo de fora eu fiz e sou.
Talvez tudo isso ainda pareça estranho de ser dito como defeito... Porém a cobrança é grande, a consciência de que eu podia ter feito mais, o saber que eu não fiz o meu melhor, o ser dominada pela preguiça, a insegurança de mesmo fazendo o meu melhor ainda não ser o suficiente, o me decepcionar comigo mesma por olhar e saber que o meu melhor não é o melhor, que eu deveria inclusive melhorar ele.
As cobranças não param em minhas ações, eu tenho que ser mais inteligente, eu tenho que saber sobre tudo, tenho que conseguir ajudar aos outros quando eles precisarem e não posso me importar caso ajudar os outro diminua o tempo de minhas obrigações, afinal eu que deveria ter sido mais rápida ou quem sabe começado antes.
E as loucuras não param por aqui. Eu tenho que ser bonita, tenho que me vestir bem, tenho que estar cheirosa e estar perfumada, pois devo agradar aos outros, devo ser agradável de estar junto, de ser admirada, tenho que me esforçar para ter um corpo esguio, tenho que ser aceitável dentro dos padrões, preciso agradar principalmente aquele que quero me manter junto, por mais que ele diga palavras de o quão bom já é, já esta... Não consigo parar de pensar no que o mundo diz ser melhor, ser mais bonito... E mesmo ele já falou sobre isso, sobre o fato de que realmente seria mais bonito um corpo mais esguio. Eu nunca fui o sonho de ninguém, nunca fui perfeita em característica nenhuma. Sempre fui um gato normal, ou quase, sou pequena, realmente pequena, tanto que muitas vezes acreditam estar vendo um filhote.
Meus pelos, queria que eles lhe agradassem mais, queria que fossem mais longos, mais macios, queria que fossem negros como a noite, queria ter olhos profundos, grandes e verdes. Mas tudo que vejo é um gato desses de rua, um gato comum, não consegue se destacar, não consegue fazer o bem a todos, não consegue ajudar e tudo que oferece... Eu poderia ser mais.
São loucuras como essa que me fazer passar a noite em claro observando a lua. Perguntando-me se um dia serei capaz de aceitar a mim. Já mudei tanto, já fui de tantas formas e mesmo assim ainda não consegui me agradar, ainda não sou como tanto queria a cada momento descubro novos medos, novos defeitos, descubro mais e mais erros em mim.
Um dia quero acreditar. Acreditar que sou bonita como sou. Acreditar que as pessoas que estão a minha volta o fazem por gostar de mim e não por pena ou por falta de opção. Quero, com todas as minhas forças, acreditar no seu amor por mim. Quero viver sem culpa. E um dia... quem sabe... me sentir digna de ser feliz.

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